quinta-feira, 22 de abril de 2010

"PASSEATAS OU PASSADEIRAS"

Assim sendo fico a pensar seriamente em mudar de residência. A coisa fica mais bonita se viver, por exemplo, em Londres, Nova Iorque, Berlim.
Não, sejamos modestos…Barcelona já serve.
Mas não se pense que deixo o meu País, isso não.
Quero continuar a trabalhar por cá, dando o meu contributo para os beneficiários do rendimento mínimo que se recusam a trabalhar.
Pudera…
Só há uma condição para isto se concretizar:
A minha entidade patronal tem de assumir o encargo das minhas viagens e correspondentes ajudas de custo entre o local de trabalho e a residência.
Assim é que fica bem e, além de equitativo, é justo.
Ah…já estava a esquecer:
E convém que assumam também a acumulação de reformas, isto na perspectiva de eu conseguir um segundo emprego.
É que a vida está difícil e o que se ganha num emprego só não dá para aguentar com um mínimo de dignidade.
Também isto, além de equitativo, é justo.
E deste modo, como não quero o bem só para mim, deverão tais medidas serem extensivas a todos os portugueses que, como eu, trabalham para sustentar os beneficiários do rendimento mínimo.
Só esses.
Outros beneficiários de outras coisas não são para aqui chamados.
Ou serão?
Mais um mistério lusitano.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O INTERRUPTOR

É forçoso concluir que somos um povo ignorante, impreparado e, acima de tudo, absolutamente estúpido.
Também se diga que certas conclusões só são possíveis porque vivemos no país em que vivemos, onde tudo acontece ao mesmo tempo em que não acontece nada.
De outro modo:
“as coisas passam-se mas simultaneamente não se passam”.
Sinteticamente diga-se:
-Feita a investigação criminal sobre o famoso caso Taguspark conclui-se que:
Luís Figo aceitou aparecer a dar apoio político em troca da assinatura de um contrato.
Mas foi ilibado porque desconhecia que o Taguspark geria dinheiros públicos.
É obra.
Conclusão:
Podem fazer-se favores políticos a troco de contratos se se tratar apenas de dinheiro privado.
Tudo bem.
Mas…onde estão a coerência, verticalidade e isenção?
Moralmente falando cabe perguntar se ele tinha de saber que tipo de dinheiros eram geridos.
Moralmente falando cabe perguntar se teria dado a cara numa campanha política se não houvesse contrato.
De outro modo:
-Ética por estas bandas?
Ainda há quem acredite no pai natal.
Mas há melhor:
-Três “ilustres” figuras envolvidas no caso foram acusadas de corrupção passiva.
Em nome da mesma ética cabe perguntar:
-Está bem mas…quem corrompeu ou tentou corromper?
Só uma resposta é possível:
-Mistério lusitano.
Como diz o povo:
-para que o candeeiro acenda alguém terá de ligar o interruptor.
Neste caso foi seguramente obra do divino espírito santo.
E no fim vai acabar tudo ilibado, como já se percebeu.
A bem da Nação.

terça-feira, 16 de março de 2010

O INTERESSE NACIONAL E A ROLHA

Como se neste recanto à beira mar plantado nada mais houvesse de importante, retomou-se um mito dos tempos de antigamente “a lei da rolha”, a propósito de uma medida sancionatória aprovada no recente congresso do PSD, em sede de alteração estatutária.
O caso em si tem uma importância relativa, mas contém pelo menos um ponto ridículo e outro preocupante.
A importância relativa resulta de que salta à vista de todos que o PSD, ou qualquer outro partido político de gene democrático, não se torna por isto mais ou menos disciplinado nem mais ou menos defensor da liberdade de expressão.
A questão está em ter-se necessidade de pôr tal coisa nos estatutos quando já existe um regulamento disciplinar que prevê vários tipos de sanções, podendo ir até à expulsão.
O ponto ridículo são os sessenta dias.
Até 61 dias antes de qualquer eleição poderá qualquer militante desancar à vontade na direcção do Partido, ou discordar das suas directrizes políticas, porque sabe que essa infracção não será considerada grave (enfim dependerá sempre das circunstâncias de cada caso) a ponto de o levar a ser expulso.
Passada a “quarentena” dos dois meses, logo no dia imediatamente a seguir ao acto eleitoral, pode voltar a fazê-lo.
Ou seja, só é grave em termos de fundamentar uma expulsão durante aqueles precisos 60 dias.
Só um desabafo: não lembra ao diabo.
Há contudo um ponto preocupante.
A sensação que fica é que os delegados (militantes que são) que aprovaram tal coisa, fosse por cansaço ou qualquer outro motivo, não se devem ter apercebido bem do que estavam a aprovar. Era domingo, último dia do Congresso, já passava da normal hora de almoço, o dia anterior tinha sido esgotante, começaria a brotar uma latente vontade de pôr fim aos trabalhos e, pormenor não despiciendo, o próprio Presidente da Mesa disse em determinado momento que não tinha havido tempo para se estudarem a fundo as propostas.
Para ser claro: o Congresso teve à pressa uma parte de revisão estatutária.
O seu grande objectivo era baralhar as cartas das já anunciadas candidaturas à liderança, e tentar por um lado “pôr todos a discutir contra todos” assim pondo em causa um determinado candidato pré anunciado como favorito, e, por outro lado, que dessa confusão saísse um pretenso “salvador da pátria” que, impulsionado por uma mole inesperada de apoiantes ( a famosa e já gasta “vaga de fundo”) ali resolvesse anunciar a sua decisão de se candidatar num acto de sacrifício pessoal para salvar o partido e o país.
Por alguma razão somos o país do fado. Os portugueses deixam-se sempre enrolar nestas jogadas aparentemente inesperadas que os levam até às lágrimas de emoção, mas que têm tanto de inesperado como a espuma das ondas a espraiar-se na areia.
E o que é preocupante afinal é que, ao que parece, uma boa parte do PSD ainda não percebeu (ou não lhe interessará perceber) que o Partido só andará em frente se se libertar dos “senhores” e “figuras” do passado.
Isto é capaz de ter algum lado freudiano mas haverá decerto algum terapeuta que ajude o Partido a arrumar as ideias e encontrar novo rumo.
O passado é decerto importante, mas ficar perenemente agarrado a ele não dará grande resultado.
E o que tem isto afinal a ver com o interesse nacional?
Tem tudo.
Quem tem acompanhado este meu blogue sabe do meu cepticismo quanto à famosa União Europeia.
Assunto “estafado” e que até já a mim próprio enjoa mas, nem que seja só mais uma vez, tem de ser.
O ministro alemão das finanças veio recentemente dizer a propósito da Grécia que os países que não cumpram as metas do défice e não sejam capazes de organizar as suas contas públicas, deverão sair da zona euro.
Só por acaso foi o ministro alemão, não foi o da Itália ou do Luxemburgo.
Além disso propôs a criação de um Fundo Monetário Europeu.
A primeira constatação é logo esta: magnífica que é a famosa coesão europeia.
Patriotismos bacocos à parte, chateia-me esta coisa de que quem manda na minha casa não sou eu.
O cidadão médio português vive preocupado com o défice?
Ou vive angustiado com a sua sobrevivência (e da sua família) que vê cada vez mais difícil por causa do dito défice?
Não tendo força para impor regras, somos obrigados a viver mal para ter de cumprir as regras que outros nos impõem?
E se não as cumprirmos são tão nossos amigos que nos apontarão a porta da saída da moeda única?
Claro que ele estava a falar da Grécia, mas referiu-se “aos países…”.
Então se o grande objectivo é uniformizar a qualidade de vida em toda a zona euro onde está a coerência?
Pois é.
É que em nome do “interesse nacional” viabilizou-se um Orçamento de Estado e, provavelmente, vai dizer-se “sim” a um PEC com que dizem não concordar. São alguns políticos que o dizem. Está publicado.
Para no fim continuar tudo na mesma, com a generalidade das pessoas a viver mal em favor do dito interesse.
E este apelado interesse nacional mais não é que o medo patente dos grandes da Europa.
A pergunta impõe-se:
Mas qual é o interesse nacional que justifica que os nossos cidadãos vivam cada vez pior só para fazer a vontade a quem dita as leis da União?
Pelo menos o dito ministro alemão das finanças teve por uma vez a coragem de dizer aquilo que é o verdadeiro fundamento de quem realmente manda.
Não tem de ser necessariamente aquilo que nos interessa.
HPeter

terça-feira, 9 de março de 2010

PAÍS INOCENTE

O que mais há por aí são culpados. Autores morais e materiais de crimes contra as pessoas, o património, os valores sociais, o ambiente, o sistema financeiro, um nunca mais acabar de factos que fazem títulos de jornais e alimentam o frustrado imaginário de um corpo de cidadãos exausto e descrente.
Palavras leva-as o vento, e quanto a promessas…
Mas os culpados mais insuspeitos agem na desagregação e decadência sociais.
Tentam fazer-nos acreditar que somos o que não somos, e dão-nos o paraíso em troca de sacrifícios, sendo que estes são reais e o paraíso é um imaginário religioso, seja qual for a fé.
Ainda dizem que as coisas do espírito estão fora das congeminações práticas, políticas e económicas.
Falso.
O que se passa é exactamente o contrário.
Em nome da realidade imediata, sacrificante e penosa, anunciam-nos um futuro de esplendor, que nunca chega, um altar de esperança sempre adiada, um mundo de miragens.
Andam por aí muitos autores de tais façanhas, agarrados à crendice natural dos mais necessitados, prontos a incensar um qualquer salvador da sociedade.
Dizem que não, mas de facto usam e abusam dos mais elementares princípios de uma qualquer religiosidade, lançam o engodo fácil de uma vida melhor umas tantas luas mais à frente, mas exigem já o sacrifício, a dádiva escondida num pomposo título de serviço social.
O famoso “conto do vigário”, e até a designação não será por acaso, não anda muito longe disto.
No fim resta sempre a desilusão da mentira, e a resignação perante a opulência dos que teimam em ser culpados sem acusação nenhuma, muito menos confessores dos actos ou omissões que tornam a vida geral insuportável.
Foi sempre assim ao longo dos tempos, alguém a pagar tudo para não ter nada, uma espécie de “crime social” que não está previsto em código nenhum, e por isso nunca se apuram culpados de um crime que não existe em letra de lei.
E quem fica para contar a história, apanhando as migalhas que o vento não levou, é sempre o rol de inocentes que nenhum mal fizeram para além de existirem.
No fundo, um país enevoado, envolto em quimeras de esperança, e acossado por tempestades irreparáveis.
Um país de inocentes, sem forças para arrepiarem caminho e tomarem as rédeas do que lhes devia pertencer.
Talvez seja o destino.
Mas foi sempre assim.
HPeter

quarta-feira, 3 de março de 2010

O COMUNICADO

Desde 18 de Outubro de 2009 que nada escrevo neste espaço. Impus a mim próprio um tempo de paragem e reflexão, tentando não me deixar envolver em campanhas ou ondas noticiosas sempre apetecíveis, mas nem sempre rigorosas ou com um elevado grau de contexto publicitário. Falo sobretudo de temas sociais e neste sentido amplo também de questões de natureza política. São esses os temas que mais me motivam e, passe a imodéstia, tenho direito a exercer a minha cidadania como qualquer outra pessoa, dizendo e escrevendo o que penso sem ter de me sentir escravo de correntes de opinião venham de onde vierem, e sempre com a intenção de contribuir, à escala da minha intervenção, para que as coisas tomem rumo.
Muita coisa aconteceu nestes últimos meses cá e por esse mundo fora, e nem vale a pena relembrar a lista de temas possíveis, não só porque todos a conhecem mas principalmente porque, no que a nós portugueses diz respeito, o rol não é muito brilhante.
Curiosamente assalta-me a sensação de estar a iniciar as minhas aventuras na blogosfera. Exactamente o mesmo estado de espírito com que decidi escrever um primeiro texto (Desígnios Nacionais) num outro blogue, já lá vão mais de dois anos.
Esta percepção levou-me a reler esse texto inicial para fazer a mim mesmo a pergunta:
-Afinal o que é que mudou?
Por aqui continua-se a brincar aos países, aquilo que tenho muitas vezes chamado de “faz de conta” e, decerto defeito meu, não vislumbro grandes desígnios nacionais nos dias de hoje, nem jeitos de alguém ser capaz de os definir e promover.
Descontemos talvez o centenário da República.
Há por aí quem se esforce para nos relembrar o festejo mas, outra vez seguramente defeito meu, não sinto na nossa sociedade qualquer especial motivação para o mesmo.
Quem anda na rua e contacta o cidadão comum rapidamente percebe que à maioria das pessoas tanto faz serem os 100 anos da República como da “Morgadinha dos Canaviais” ou o pelourinho de “Freixo de Espada à Cinta”.
O povo português anda preocupado com outras coisas que a República não só não resolveu como, em muitos casos, agravou.
Ocorre-me ter escrito há tempos que sentia a sociedade portuguesa estar a atingir o limite moral da decadência.
Dito de modo mais cruel, estar a chegar à beira do precipício.
E ontem deu-se mais um episódio.
Quem lê o comunicado que saiu da reunião do Conselho Superior do Ministério Público percebe e pergunta duas coisas:
-O que é que se pretendeu explicar e justificar?
-O que é que melhorou com tal reunião?
O dito comunicado é opaco, fechado, defensivo, e não revela a energia e pujança que uma das mais altas estruturas do nosso sistema judicial, pilar básico do regime, deveria evidenciar.
A Justiça ter de ser clara e transparente é uma coisa.
Ter de defender-se sem explicar nada é outra.
Nem me interessa falar sobre o badalado caso das escutas que, podendo ser grave, tem sido tratado em muitos sectores ao nível de uma novela mexicana.
O que me preocupa é que os representantes das mais importantes estruturas que suportam um Estado de Direito já não sabem o que hão-de dizer.
E então exportam comunicados formais, para exprimir que cada um agiu dentro das suas competências legalmente consagradas.
Muito obrigado pelo esclarecimento mas isso todos nós já sabíamos.
Talvez fosse até melhor não dizerem nada.
O que preocupa é ver aqueles que deveriam assumir frontalmente as rédeas de sustentação de um regime, preferirem adoptar uma atitude de pretensa explicação com o único objectivo de se resguardarem de eventuais responsabilidades.
Isso é sinal de fraqueza, e não se aplica só à Justiça.
E o pior é que já ninguém acredita.

HPeter