terça-feira, 9 de março de 2010

PAÍS INOCENTE

O que mais há por aí são culpados. Autores morais e materiais de crimes contra as pessoas, o património, os valores sociais, o ambiente, o sistema financeiro, um nunca mais acabar de factos que fazem títulos de jornais e alimentam o frustrado imaginário de um corpo de cidadãos exausto e descrente.
Palavras leva-as o vento, e quanto a promessas…
Mas os culpados mais insuspeitos agem na desagregação e decadência sociais.
Tentam fazer-nos acreditar que somos o que não somos, e dão-nos o paraíso em troca de sacrifícios, sendo que estes são reais e o paraíso é um imaginário religioso, seja qual for a fé.
Ainda dizem que as coisas do espírito estão fora das congeminações práticas, políticas e económicas.
Falso.
O que se passa é exactamente o contrário.
Em nome da realidade imediata, sacrificante e penosa, anunciam-nos um futuro de esplendor, que nunca chega, um altar de esperança sempre adiada, um mundo de miragens.
Andam por aí muitos autores de tais façanhas, agarrados à crendice natural dos mais necessitados, prontos a incensar um qualquer salvador da sociedade.
Dizem que não, mas de facto usam e abusam dos mais elementares princípios de uma qualquer religiosidade, lançam o engodo fácil de uma vida melhor umas tantas luas mais à frente, mas exigem já o sacrifício, a dádiva escondida num pomposo título de serviço social.
O famoso “conto do vigário”, e até a designação não será por acaso, não anda muito longe disto.
No fim resta sempre a desilusão da mentira, e a resignação perante a opulência dos que teimam em ser culpados sem acusação nenhuma, muito menos confessores dos actos ou omissões que tornam a vida geral insuportável.
Foi sempre assim ao longo dos tempos, alguém a pagar tudo para não ter nada, uma espécie de “crime social” que não está previsto em código nenhum, e por isso nunca se apuram culpados de um crime que não existe em letra de lei.
E quem fica para contar a história, apanhando as migalhas que o vento não levou, é sempre o rol de inocentes que nenhum mal fizeram para além de existirem.
No fundo, um país enevoado, envolto em quimeras de esperança, e acossado por tempestades irreparáveis.
Um país de inocentes, sem forças para arrepiarem caminho e tomarem as rédeas do que lhes devia pertencer.
Talvez seja o destino.
Mas foi sempre assim.
HPeter