segunda-feira, 31 de agosto de 2009

MEMÓRIA CURTA

"Quem não tem respeito pelo Presidente da República vai ter respeito por quem?"
É consultar os arquivos das televisões, em que isto foi dito por alguém ao mesmo tempo que caminhava para uma qualquer reunião partidária.
Palavras célebres ditas em inícios de 2005 a propósito das reacções da Santana Lopes e do PSD à decisão do então Presidente Jorge Sampaio de dissolver o Parlamento e convocar eleições.
Decisão essa que, já toda a gente hoje percebeu, ter sido tomada para ele, Presidente, se reconciliar com a sua "família política" que, mais ou menos seis meses antes lhe "desancara" forte e feio por ter aceite a substituição de Barroso por Santana no cargo de Primeiro Ministro.
Soaram bem alto nessa altura as críticas, entre outros, de Ana Gomes, que chegou a acusar Jorge Sampaio de se ter aliado à direita.
O então Presidente estava à distancia mais ou menos de um ano de terminar o seu segundo mandato, e não ficaria decerto bem consigo mesmo se o terminasse em diferendo com o seu próprio partido.
Ouvi há dias alguns comentadores lembrarem este caso e dizerem que "aquela dissolução nunca ficou muito bem percebida..."
É o caso em Portugal, as coisas nunca se percebem muito bem.
É melhor deixá-las "poisar", as pessoas vão esquecendo, o tempo passa, etc e tal.
Muito bem.
Passaram quatro anos e meio.
Cavaco Silva há poucos dias vetou a lei das uniões de facto.
Podem discutir-se os fundamentos, como referi no artigo anterior, mas é uma decisão do Presidente da República, ponto.
José Sócrates há dois dias, numa reunião (ou comício) partidária, discursou assim:
"Não conseguimos aprovar a lei das uniões de facto nesta legislatura? Está bem. Conseguiremos na próxima se ganharmos as eleições".
Omitiu os fundamentos do veto, também está bem.
Mas uma coisa não consegue evitar.
Que os portugueses entendam tais palavras como uma afronta a uma decisão do Presidente da República, que de resto o PS tem tentado ultimamente e de modo sistemático colar ao PSD.
Percebe-se a estratégia, tão legítima como qualquer outra no arremedo de democracia que vivemos.
Mas que soa como afronta parece-me inquestionável.
Só falta relembrar o autor da frase com que se iniciou este texto.
Foi José Sócrates, na altura candidato a Primeiro Ministro.
Está bem.
HPeter